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domingo, 17 de abril de 2011

Geração à rasca - A nossa culpa? - Comentário ao texto

Geração à Rasca - A Nossa Culpa

Um dia, isto tinha de acontecer.
Existe uma geração à rasca?
Existe mais do que uma! Certamente!
Está à rasca a geração dos pais que educaram os seus meninos numa abastança
caprichosa, protegendo-os de dificuldades e escondendo-lhes as agruras da vida.
Está à rasca a geração dos filhos que nunca foram ensinados a lidar com frustrações.
A ironia de tudo isto é que os jovens que agora se dizem (e também estão) à rasca
são os que mais tiveram tudo.
Nunca nenhuma geração foi, como esta, tão privilegiada na sua infância e na sua
adolescência. E nunca a sociedade exigiu tão pouco aos seus jovens como lhes tem sido
exigido nos últimos anos.
Deslumbradas com a melhoria significativa das condições de vida, a minha geração
e as seguintes (actualmente entre os 30 e os 50 anos) vingaram-se das dificuldades em
que foram criadas, no antes ou no pós 1974, e quiseram dar aos seus filhos o melhor.
Ansiosos por sublimar as suas próprias frustrações, os pais investiram nos seus
descendentes: proporcionaram-lhes os estudos que fazem deles a geração mais
qualificada de sempre (já lá vamos...), mas também lhes deram uma vida desafogada,
mimos e mordomias, entradas nos locais de diversão, cartas de condução e 1º
automóvel, depósitos de combustível cheios, dinheiro no bolso para que nada lhes
faltasse. Mesmo quando as expectativas de primeiro emprego saíram goradas, a família
continuou presente, a garantir aos filhos cama, mesa e roupa lavada.
Durante anos, acreditaram estes pais e estas mães estar a fazer o melhor; o dinheiro
ia chegando para comprar (quase) tudo, quantas vezes em substituição de princípios e de
uma educação para a qual não havia tempo, já que ele era todo para o trabalho, garante
do ordenado com que se compra (quase) tudo. E éramos (quase) todos felizes.
Depois, veio a crise, o aumento do custo de vida, o desemprego, ... A vaquinha
emagreceu, feneceu, secou.
Foi então que os pais ficaram à rasca.
Os pais à rasca não vão a um concerto, mas os seus rebentos enchem Pavilhões
Atlânticos e festivais de música e bares e discotecas onde não se entra à borla nem se
consome fiado.
Os pais à rasca deixaram de ir ao restaurante, para poderem continuar a pagar
restaurante aos filhos, num país onde uma festa de aniversário de adolescente que se
preza é no restaurante e vedada a pais.
São pais que contam os cêntimos para pagar à rasca as contas da água e da luz e do
resto, e que abdicam dos seus pequenos prazeres para que os filhos não prescindam da
internet de banda larga a alta velocidade, nem dos qualquercoisaphones ou pads, sempre
de última geração.
São estes pais mesmo à rasca, que já não aguentam, que começam a ter de dizer
"não". É um "não" que nunca ensinaram os filhos a ouvir, e que por isso eles não
suportam, nem compreendem, porque eles têm direitos, porque eles têm necessidades,
porque eles têm expectativas, porque lhes disseram que eles são muito bons e eles
querem, e querem, querem o que já ninguém lhes pode dar!
A sociedade colhe assim hoje os frutos do que semeou durante pelo menos duas
décadas.
Eis agora uma geração de pais impotentes e frustrados.
Eis agora uma geração jovem altamente qualificada, que andou muito por escolas e
universidades mas que estudou pouco e que aprendeu e sabe na proporção do que
estudou. Uma geração que colecciona diplomas com que o país lhes alimenta o ego
insuflado, mas que são uma ilusão, pois correspondem a pouco conhecimento teórico e
a duvidosa capacidade operacional.
Eis uma geração que vai a toda a parte, mas que não sabe estar em sítio nenhum.
Uma geração que tem acesso a informação sem que isso signifique que é informada;
uma geração dotada de trôpegas competências de leitura e interpretação da realidade em
que se insere.
Eis uma geração habituada a comunicar por abreviaturas e frustrada por não poder
abreviar do mesmo modo o caminho para o sucesso. Uma geração que deseja saltar as
etapas da ascensão social à mesma velocidade que queimou etapas de crescimento. Uma
geração que distingue mal a diferença entre emprego e trabalho, ambicionando mais
aquele do que este, num tempo em que nem um nem outro abundam.
Eis uma geração que, de repente, se apercebeu que não manda no mundo como
mandou nos pais e que agora quer ditar regras à sociedade como as foi ditando à escola,
alarvemente e sem maneiras.
Eis uma geração tão habituada ao muito e ao supérfluo que o pouco não lhe chega e
o acessório se lhe tornou indispensável.
Eis uma geração consumista, insaciável e completamente desorientada.
Eis uma geração preparadinha para ser arrastada, para servir de montada a quem é
exímio na arte de cavalgar demagogicamente sobre o desespero alheio.
Há talento e cultura e capacidade e competência e solidariedade e inteligência nesta
geração?
Claro que há. Conheço uns bons e valentes punhados de exemplos!
Os jovens que detêm estas capacidades-características não encaixam no retrato
colectivo, pouco se identificam com os seus contemporâneos, e nem são esses que se
queixam assim (embora estejam à rasca, como todos nós).
Chego a ter a impressão de que, se alguns jovens mais inflamados pudessem,
atirariam ao tapete os seus contemporâneos que trabalham bem, os que são
empreendedores, os que conseguem bons resultados académicos, porque, que inveja!, que chatice!, são betinhos, cromos que só estorvam os outros (como se viu no último
Prós e Contras) e, oh, injustiça!, já estão a ser capazes de abarbatar bons ordenados e a
subir na vida.
E nós, os mais velhos, estaremos em vias de ser caçados à entrada dos nossos locais
de trabalho, para deixarmos livres os invejados lugares a que alguns acham ter direito e
que pelos vistos - e a acreditar no que ultimamente ouvimos de algumas almas -
ocupamos injusta, imerecida e indevidamente?!!!
Novos e velhos, todos estamos à rasca.
Apesar do tom desta minha prosa, o que eu tenho mesmo é pena destes jovens.
Tudo o que atrás escrevi serve apenas para demonstrar a minha firme convicção de
que a culpa não é deles.

A culpa de tudo isto é nossa, que não soubemos formar nem educar, nem fazer
melhor, mas é uma culpa que morre solteira, porque é de todos, e a sociedade não
consegue, não quer, não pode assumi-la.
Curiosamente, não é desta culpa maior que os jovens agora nos acusam.
Haverá mais triste prova do nosso falhanço?
Pode ser que tudo isto não passe de alarmismo, de um exagero meu, de uma
generalização injusta.
Pode ser que nada/ninguém seja assim.



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Comentário ao texto “Geração à Rasca – A Nossa Culpa!”

Neste momento, o país encontra-se assolado por várias dificuldades e, apesar de existirem cada vez mais jovens com formação, a taxa de desemprego aumenta gradualmente com o decorrer do tempo. Cada vez mais as pessoas questionam o porquê da existência desta “crise económica e social” que nos tira o alimento e enfraquece a alma. No entanto, se pensarmos bem, a culpa reside em cada elemento da população que cresce e se desenvolve sem ter consciência das consequências que advêm de uma atitude inconsciente.
É importante salientar o papel dos pais na educação e construção da personalidade dos seus filhos, futuros membros activos da sociedade, sendo fundamental para o seu desenvolvimento e crescimento usufruírem do convívio com vários elementos da família, os pais, os avós, os tios e primos. Devido ao facto de os pais terem, actualmente, uma vida muito agitada, muitos deles deixaram de ter tempo para um pequeno momento de brincadeira com os seus filhos. Saem para trabalhar, deixam os filhos nas escolas 8 horas por dia, e quando os vão buscar já o dia escureceu; deste modo, só jantam juntos, dirigindo-se depois para o quarto para descansar para um novo dia. Talvez seja um dia, no qual terão oportunidade de passar um bom ‘’momento em família’’ num certo comercial a oferecer ‘’o que é necessário’’ aos seus filhos ou, na pior das hipóteses, emprestam-lhes o cartão de multibanco, porque ‘’hoje não temos tempo para ir contigo, mas compra o que for necessário’’.
A falta de atenção é compensada com presentes e brinquedos caros de fazer inveja às outras crianças. Esquecem-se que dispensar uma hora para brincar e passarem tempo de qualidade com os seus filhos deveria ser a maior recompensa que algum pai/mãe poderia desejar, contribuindo para a criação de laços sociais entre os elementos da família. Esquecem-se também de que, mesmo que tenham algumas possibilidades, os seus filhos poderão não as ter um dia e deveriam ser estar preparados para isso, porque infelizmente os pais não estão aqui para sempre…
Mas quem os pode censurar?
Com todos os desempregados que existem ao virar da esquina e com as contas que não param de chegar ao correio de cada um, é natural que as pessoas queiram assegurar os seus empregos, nem que para isso se desleixem nos momentos que deveriam partilhar com os seus filhos e tenham, por exemplo, de fazer horas extraordinárias.
Na actualidade, constata-se que as crianças não apreciam as brincadeiras colectivas ou o simples brincar com um brinquedo em específico; as consolas e os computadores são a sua grande paixão. Frases como ‘’Já não gosto dos meus brinquedos.’’e ‘’Não me estou a divertir muito. A jogar PlayStation é que estou bem.’’ começam a ser ouvidas mais frequentemente pelos pais. E se uma criança está a jogar sossegada, enquanto os pais estão a trabalhar num relatório, faz menos barulho e pede menos companhia para ‘’o seu brincar’’, porque, de facto, tem um computador a jogar com ela… E tudo isso poderá dar muito jeito…! Assim, o seu desenvolvimento cognitivo fica comprometido, dado que existem capacidades que não são estimuladas, nomeadamente a criatividade que advêm da criação dos próprios brinquedos (como sucedia em gerações antecedentes).
Estamos assim perante uma sociedade individualista, sedentária e com défice de interacções sociais, que forma jovens cada vez menos aptos a enfrentar as dificuldades, cada vez menos preparados para lutar pelos seus objectivos! Deparamo-nos com jovens que não conhecem o quanto é gratificante o companheirismo, o quanto é indispensável um “não” para que, mais tarde, quando for realmente necessário, possam ouvir muitos “sim”, sendo estes pronunciados, não pelos seus pais, mas pelas grandes identidades que lhes podem dar um futuro promissor e torná-los numa geração de vencedores.

1 comentário:

  1. Olá,
    Apreciei o esforço que fizeram para pensar o texto "Geração à rasca" do ponto de vista da temática do vosso blog. Este desafio não era propriamente fácil, nomeadamente quando se pretendia uma leitura conceptualmente fundamentada.
    A vossa apreciação tende para avançar com afirmações generalistas e simultaneamente muito redutoras ao nível da leitura da realidade que é muito complexa. Atenção a isso.

    Até breve, continuem a trabalhar bem.
    GP

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